Os poetas não são azuis nem nada, como pensam alguns supersticiosos, nem sujeitos a ataques súbitos de levitação. O de que eles mais gostam é estar em silêncio - um silêncio que subjaz a quaisquer escapes motorísticos e declamatórios. Um silêncio... Este impoluível silêncio em que escrevo e em que tu me lês. Mario Quintana
terça-feira, 30 de novembro de 2010
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quarta-feira, 24 de novembro de 2010
Chova
Mas chova de verdade
E com tal intensidade
Que arrebate
O que já foi tarde.
Caia
Mas caia de verdade
E com tal velocidade
Que esmague
O que já foi tarde
Suma
Mas suma de verdade
E com tal fugacidade
Que maltrate
O que já foi tarde
Beba
Mas beba de verdade
E com tal crueldade
Que acabe
O que já foi tarde
Viva
Mas viva de verdade
E com tal intensidade
Que esqueça
O que já foi tarde
Viva
Mas com plena liberdade
E com tal vivacidade
Que tudo que fora tarde
Não seja desculpa para um eterno alarde.
terça-feira, 23 de novembro de 2010
Seduction
Confuso, luto e acabo por delatar o mundo
Eunuco, degusto, sisudo, o cubano charuto
E das cinzas que dele ultimam pinto minha retina
Deixando-a sem a cruel rotina, em ver-te, linda guria
Risonho, revigoro-me no fomento desmedido dos sonhos
Cujo grau de tolerância, pasmem, remete-me a infância
E no destilado cachorro engarrafado, vou apaziguando os fatos
De um poeta em manter a chama, do amor de quem não lhe ama.
Assim, com a brasa nas entranhas, vejo façanhas
Dentre as quais uma linda constatação me apraz:
De que amar vale à pena, mesmo sem ter-te, minha pequena
Já que a beleza do sentir sem possuir, não inibe o porvir.
sábado, 20 de novembro de 2010
Musica
Composição: Ralph Kohler
Menina-bossa sai dessa joça
Inova a fossa e joga fora
Da pena em deixar alguém
Não ser amada mais que um vintém
A vida é dura, fugaz e nula
Se não amou, jogou chorou
Portanto voe, doe e perdoe
Que sem rancor, brota o amor
Menina-nova, não há quem possa
Pois sem a bossa a vida é fossa
Bruta e nula, sem a candura
Se não a muda, que Deus lhe acuda
Já que a curta, quando se viu, já lhe partiu
Em dois, em mil
Portanto voe, doe e perdoe
Que com amor, sem tem mais cor.
terça-feira, 16 de novembro de 2010
Aforismo
Sabes, não foi ilação que exigira muito da escassa massa cinzenta, azulada,ou rosa - incolor, do meu eu pensante. Intui a pouco, com inexatidão, mas perplexa constatação, quão fugaz e inefável resume-se mísera, a finita existência. Não proporcionar-me satisfações estéticas eternas, capazes de preencher meus vazios sedentos por fruição, é pura traição. Eis de acreditar, de agora em diante, na possibilidade da reencarnação como alento ao meu ser pedante. Eis de buscar, o agora, incessante, sublimar as infinitas amantes, criadas, incriadas e recriadas de expressar-se em brasa ofegante. Embora soe desatino, eu julgaria como descaso, ou mero capricho divino, furtar-me dos deleites corpóreos deste mundo dionisíaco.
Num espanto a dor um pranto
Da candura fez-se nula, a ternura
Do amor que mitigou a dor jamais cessou
Forjou na brasa, um forte em norte
Cicatrizando o corte, a brilhar cobre
Mas de repente, do acaso desfez-se o fardo
O amargo trago transmutou-se em doce fato
E da poesia surgiu à vida, já que estava perdida
Combalida e intempestiva feita nau à deriva.
Do cais, no mais, plasmou o ser
Fingi amá-la na tua senzala
Sedento em ser mais que Isaura
Porém, sem forças como irei expulsá-la?!
Cor, no mais, de céus já vai
Entristecê-la com fel, anil, com vil ócio, partiu
Saiba, amei, joguei, mudei e cansei
Da sua inércia que nada muda e sempre nula.
Agora, cabe-me o findar
Segue tua trilha, nua e límpida
Que sem tua retina
Visão eis de ter
Cristalina
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Quem dera se por acaso