quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Ronaldo versus Sociedade Injusta.

Ronaldo Nazário de Lima, conhecido como Ronaldo “Fenômeno”, iniciou sua carreira de jogador de futebol pelo Clube Social Ramos do Rio de Janeiro. Mudou-se para o São Cristóvão em seguida. No Cruzeiro se profissionalizou no segundo semestre de 1993. A alcunha “Fenômeno” recebera quando jogava no futebol italiano pela Internazionale de Milão. Ronaldo como outras tantas crianças não fora agraciado pelo destino de nascer em uma família cuja condição econômica fosse prodigiosa e próspera. Nascera no subúrbio de Bento Ribeiro sendo o mais novo entre três irmãos. “Dadado” – seu apelido de infância – não demorou a mostrar as qualidades que o transformariam, aos 20 anos, no melhor jogador do mundo, em 1996, posição consolidada com mais duas eleições, em 1997 e 2002. Com apenas 16 anos, assinalou 12 gols no Campeonato Brasileiro, em 14 jogos disputados. No ano seguinte, marcou 23 no Campeonato Mineiro, do qual foi campeão e artilheiro. Acabou sendo convocado para a Copa dos Estados Unidos. Assim como Pelé, viajou para o seu primeiro Mundial aos 17 anos e dele retornou com a taça de campeão. Após a competição, a jovem promessa transferiu-se para o PSV Eindhoven, clube pelo qual se tornou artilheiro do campeonato nacional e campeão da Copa da Holanda, em 1995, com a expressiva marca de 66 gols em 71 jogos. Sua simples presença em campo já assustava os zagueiros adversários. Nessa época Ronaldo começou a se firmar como titular da seleção brasileira, na disputa da Copa Umbro de 1995. Na temporada seguinte, estava no poderoso Barcelona, agremiação pela qual marcou 48 gols em 51 jogos. Foram 10 meses inesquecíveis, coroados com os 34 gols em 37 jogos pela Liga. Na Espanha, Ronaldo inventou a famosa comemoração em que imita um avião planador, sua marca registrada. Na equipe catalã o jogador conquistou a Supercopa da Espanha, a Copa do Rei e a Recopa da Europa. Seu estilo de arrancadas em velocidade e dribles desconcertantes encantou não somente os espanhóis, mas também os italianos. Em 1997, a Internazionale de Milão o contratou a peso de ouro. A expectativa foi tamanha que o atleta atraiu 60 mil torcedores ao estádio em sua estréia. Mesmo diante da forte marcação, principal característica do duro futebol italiano, Ronaldo sagrou-se artilheiro do campeonato nacional. Seus gols o fizeram receber o célebre apelido de “Fenômeno”. Na Inter, Ronaldo conquistou a Copa da UEFA em 1998, e venceu goleiros por 49 vezes, em 68 jogos. Obteve, inclusive, a melhor média de gols na história do Campeonato Italiano, na temporada 97/98.

Ainda na Itália, Ronaldo viveu o outro lado da carreira. Uma grave contusão no joelho direito, ocorrida em 1999 e agravada em 2000, o fez parar por quase dois anos. O atleta precisou se submeter a duas cirurgias e um doloroso processo de recuperação.Dado por acabado, o Fenômeno ressurgiu melhor do que nunca. Viveu um conto de fadas que emocionou o planeta no Mundial de 2002. Na Copa da Coréia e do Japão, o atacante se tornou o principal jogador da seleção brasileira e artilheiro da competição, com 8 gols. Do drama experimentado na final da Copa de 1998 à glória em 2002, Ronaldo protagonizou a mais épica saga de um jogador na história das Copas do Mundo.

Contratado a peso de ouro pelo poderoso Real Madrid, Ronaldo conquistou, entre outros títulos, o Mundial Interclubes de 2002. Terceiro artilheiro da história da seleção brasileira, o goleador poderá, assim como Pelé, levantar seu terceiro Mundial. Em 2006, tornou-se o maior artilheiro da história das Copas do Mundo, superando o alemão Gerd Müller. Ronaldo trocou o Real Madrid pelo Milan da Itália, em uma das únicas transferências simples de sua carreira. Na Itália fugiu da mídia, mas os resultados nem por isso foram ruins. Foi um dos grandes responsáveis pela boa campanha do Milan, reagindo no Campeonato Italiano e mesmo com uma punição no começo do campeonato conquistando uma vaga na Liga dos Campeões 2007-2008. Em 2007, foi descoberto que seus problemas constantes com a balança deviam-se à um mau funcionamento na glândula tireóide. Após esse diagnóstico, Ronaldo emagreceu muito, sendo chamado até de modelo. No único clássico de Milão contra a Inter que disputou, foi muito vaiado, mostrando o ódio que a torcida adversária tem por ele. Depois da Copa de 2006 nunca mais foi chamado para jogar pela seleção renovada do técnico Dunga.

No dia 13 de fevereiro de 2008, no jogo entre Milan e Livorno, após substituir Gilardino no segundo tempo, Ronaldo em sua primeira participação no jogo, ao tentar subir na área para um cabeceio, acabou se lesionando na hora do salto, saindo de campo em seguida chorando. Foi o mesmo tipo de lesão que teve no joelho direito e quase o impediu de participar da Copa de 2002. No dia 9 de dezembro de 2008 foi anunciado como novo reforço do Corinthians com contrato de uma temporada. Mais uma vez Ronaldo terá o desafio de tentar retornar para o futebol em alto nível.

Além de craque de talento inquestionável, Ronaldo empresta sua imagem a campanhas pela paz, atuando como Embaixador da ONU. Esteve em países abalados por guerras, onde sua presença foi capaz de comover correntes inimigas, como em Kovoso, no ano 2000. Em 2005, também em ação pacifista, visitou Israel e Palestina, incentivando a união de povos distanciados por conflitos que duram décadas.(www.ronaldo.com)

Ronaldo Nazário de Lima é a personificação de um sujeito que desde o início de sua carreira confia em si mesmo e luta para conseguir superar todos os desafios que a vida lhe proporciona. Não reclamou da sociedade injusta por ter nascido em condições desfavoráveis. Não faz como os humanistas de boteco que choramingam pela injustiça da sociedade e a ausência do Estado-Papai em prover de modo eficiente e satisfatório os bens aos membros (vítimas e coitadinhos) da sociedade capitalista injusta. Ronaldo não reclama esmola estatal, como as cotas. Não exige do Leviatã assistencialismo como um parasita que espera de outrem o sucesso que deve ser conquistado por ele. É um exemplo de homem cuja coragem sempre superou as dificuldades. Ronaldo assume para si a responsabilidade de sua vida, luta e conquista seu sucesso individual. Foi o mérito individual que lhe proporcionou uma fortuna estimada em 250 milhões de dólares. Se ele contratara serviços para fins de prazer sexual, ou por quaisquer motivos decidiu ter uma experiencia com travesti, pouco me importa, pois o mesmo é livre para exercer a soberania de uso sobre seu corpo, propriedade exclusivamente sua, e contratar prestações de serviços em acordos voluntários como desta natureza. Desejo sim, que ele obtenha exito em mais um desafio de sua vitoriosa carreira.

“Se você (jornalista que fez a pergunta) quiser, só vivo de futebol, respiro futebol, treino de madrugada e almoço uma bola de futebol. Tenho certeza que você não fica até de madrugada e janta na redação. Minha vida pessoal é bem particular. Ninguém tem nada a ver com isso” (Ronaldo).

“Se fui ao show da Madonna, a um restaurante para jantar ou ao cinema, não devo satisfação a ninguém. Eu não tinha me apresentado, só tinha assinado contrato. A gente está treinando só agora. Tenho obrigação de passar somente as coisas do meu trabalho, que é de interesse público.” (Ronaldo)

"Na minha história tive muitíssimos troféus, e nenhum foi-me dado. Eu conquistei todos com o meu suor e o meu sacrifício, e espero fazê-lo ainda."(Ronaldo)

Eu me inclino a pensar que o mesmo seja um amante da liberdade.

6 comentários:

Anônimo disse...

Caro amigo Ralph,
Primeiramente parabenizo pela coragem de lança-lo ao mundo das opiniões.
É uma pena, que nem todos os seres amantes declarados pelo belo futebol arte, tenha acesso aos nossos meios de comunicação, assim com toda certeza ampliaríamos nosso debate.
Confesso lhe que fiquei impressionado com tamanho empenho pelo estudo feito sobre a trajetória de vida do Sr. Ronaldo Nazário.

Enquanto corre a barra de rolagem, automaticamente vem as lembranças, os gols, as lagrimas, as conquistas, os elogios, as criticas, as dores e a imprensa sobrevivendo nas costas, de um menino gigante.
Concordo plenamente que aquele menino franzino de Bento Ribeiro, sem um pingo de duvida é um ser extraordinário, cujas condecorações foram todas conquistadas por méritos e nem uma foi a ele doada.

Mas ... Como nem tudo na vida é um mar de rosas, sou obrigado a discordar em alguns pontos, e se tivéssemos num boteco, seria minha vez de chamar o garçom e pedir outra.

Você cita que ele não reclamou da sociedade injusta, por ter nascido em condições desfavoráveis, e que também não reclama da esmola estatal.
Sem viajar muito no sobrenatural e colocar a culpa em Deus.
Confesso lhe que o cara tem “ estrela ”.
Cá entre nós. Ninguém sai de uma contusão quase que irreversível e vira artilheiro da copa do mundo só porque pega bem na bola.

Muitos Ronaldos, foram abandonados sim, nas calçadas, não só em Bento....
Sabe se lá os motivos, mas foram desprovidos da tal “ Estrelinha ”.
Muitos desses meninos, também são craques, mas esquecidos ou não tiveram as chances, por culpas de cartolas ou empresários gananciosos.
Isso vai alem das quatro linhas. Você assiste um jogo e não se conforma de alguns jogadores (com salários absurdos ), errarem passes de e um metro e meio e ainda constarem na caderneta de bolso do nosso Excelentíssimo Sr. Dunga da Silva.
Enquanto isso, outras promessas, desistem dos sonhos, arregaçam as mangas e pega no batente cedo ainda assim não reclamam da vida.
Será que o Fenômeno, também faria o mesmo ?
Se tivesse ele que sobreviver com R$ 415,00, será que ele não reclamaria, das condições desfavoráveis ? ou das cotas ?
Mas enfim, a perseverança de Ronaldo é indiscutível, ele merece cada aplauso nosso sem sombra de duvida.
Agora vamos comentar a sua opinião Chico Languiana.
Suponhamos que nosso garoto tivesse assinado com o timinho lá da Barra Funda, que joga lá naquele bairro chique, e que seu depto. de marketing, sempre lança ursinhos de pelúcia ou coisa parecida , ao invés de ter assinado com o pessoal da fazendinha.
Será que você teria a mesma opinião ?

“Foi o mérito individual que lhe proporcionou uma fortuna estimada em 250 milhões de dólares. Se o mesmo contratara serviços para fins de prazer sexual, ou por quaisquer motivos decidiu ter uma experiência com travesti, pouco me importa“

Admiro sua frieza, agindo sempre com a razão nas curtas e rápidas respostas, mas o Coringão falou mais alto. Isso só mesmo nosso eterno futebol pode nos proporcionar.

Um Forte abraço.

Ralph Kohler disse...

Anderson Mariano.(fala and)
Obrigado pelos elogios. Não tive que empenhar-me muito quanto ao “estudo feito sobre a trajetória de vida do Sr. Ronaldo Nazário”, pois os dados são do próprio site do jogador: www.ronaldo.com, conforme citado no post.
O fato de Ronaldo “ter “estrela”, ou” “sorte” é algo que foge de seu arbítrio. Tu não podes negar que a natureza nos agracia de maneira distinta e desigual quanto a capacidades diversas, pois somos desiguais por natureza. Não podemos exigir das pessoas que as mesmas sejam afortunadas e que todas tenham habilidades ao mesmo nível. Meu ponto é que deve ser louvável a postura de indivíduos autônomos, que buscam a felicidade assumindo a responsabilidade sobre suas vidas em contraste com os pusilânimes que esperam pelo acaso, Deus ou o Leviatã as providencias necessárias para a melhoria de sua condição. Não posso fazer ilações sobre qual seria a postura de Ronaldo se o mesmo ganhar um salário mínimo (sou totalmente contra o salário mínimo). Estou elogiando a postura que o mesmo tivera na vida, não a possível postura que teria ao ser remunerado pelas cifras que você imagina (Imaginemos que ele tivesse outra postura, não caberia os elogios). A ajuda de indivíduos que praticam ações filantrópicas só pode ser legítima por ser voluntária. Sendo assim, penso que aos “Ronaldos” jogados nas calçadas restam ajudas dessa estirpe, pois obrigar por via estatal que alguém pratique caridade, como em nossa realidade assistencialista, é arbitrário e fere nossa liberdade individual, sendo uma coerção ilegítima. Quanto ao salário de Ronaldo, na há espécime alguma de qualquer injustiça, pois o Corinthians não é uma entidade estatal cujos salários advêm dos tributos cobrados pelos seus torcedores. Sendo assim, o que ele ganha, é fruto de um contrato que fora aceito livremente pelas partes acordadas. Não há salário injusto em uma economia aberta cujos acordos são feitos sob a luz da liberdade. Se ele, produzir ou não, o futebol que se espera que ele pratique é um risco que o Sport Club Corinthians Paulista assumira voluntariamente ao contratá-lo.
OBS: Certamente não sou de total imparcialidade no que tange a admiração que tenho por esse atleta, pois sou movido pela paixão que nutro pelo Corinthians. Todavia, isto não implica em nada ao ponto que defendi ao longo do post. Neste o amor e a reverencia é pela liberdade individual.
Abraço

Aguinaldo Pavão disse...

Caro Ralph.
É ocioso dizer que concordo contigo sobre a soberania do indivíduo frente à sociedade e ao Estado e que qualquer acordo voluntário deve ser reconhecido como justo, mesmo que isso signifique um jogador de futebol ganhar milhões e um professor ganhar alguns trocados. No fundo, há injustiça no segundo caso, mas não pela razão geralmente aludida. É que muitos professores, como eu, nos beneficiamos da coação estatal que impõe aos indivíduos indiscriminadamente o custo de pelos serviços que prestamos. Contudo, tenho dúvidas se Ronaldo é um amante da liberdade. Ou melhor, em que sentido poderíamos afirmar isso a respeito dele? Todos parecem amar a liberdade. Mas isso é muito vago. Fico imaginando alguém perguntando ao Ronaldo: "Sr. Ronaldo, o que o senhor entende por liberdade?". Talvez ele nos surpreenda com uma boa reposta, ou talvez alguém diga que não é necessário saber definir os bens que amamos para realmente amá-los.
Abraços.

Ralph Kohler disse...

Admirável Aguinaldo.
É ocioso também de minha parte, dizer que tu sempre esclareces e traz dificuldades aos termos que empregamos sem o devido zelo conceitual. O fato de todos parecerem amar a liberdade é realmente muito vago. Talvez seja menos ardiloso compreender a postura de Ronaldo como condição necessária para que se tenha um apreço verdadeiro pela liberdade, mas não suficiente para amá-la no seu sentido mais nobre. (amar a liberdade exercendo-a na vida e ter clareza em defini-la conceitualmente).
Ronaldo poderia amar a liberdade em sentido menos nobre do termo, por não ter condições conceituais de compreender e definir seu conceito. Poderia não ter apreço de grande valor por ela, ou talvez, nenhum (exótico ou impossível). Mas jamais poderia amar a liberdade em seu sentido pleno e nobre se o mesmo se comportasse como um pusilânime que não assume a responsabilidade de sua vida conferindo a outrem o exercício que deve ser de sua autoria.
Grande Abraço.

Alison Mandeli disse...

"Foi o mérito individual que lhe proporcionou uma fortuna estimada em 250 milhões de dólares"

Tudo bem, mas não é SÓ o mérito individual, correto?

Seria ingenuidade nossa pensar que não existem outros talentos, não só no futebol, mas em outras áreas também. Seria ingenuidade pensar também que muitos destes talentos não lutam com todas as forças para conseguir seu prêmio.

Infelizmente existe mais que um esforço individual em jogo. Claro, é o que depende de nós, mas infelizmente não é tudo.

Trivial, mas é o que tenho a dizer. Talvez é um pouco de inveja de um são-paulino rs

Sua retórica está cada vez mais afiada. Fico até pensando se vou comentar aqui ou não pois os textos estão muito bem escritos para meu nível, rs.

Abraço

Ralph Kohler disse...

Caro Alison
Evidentemente seria ingenuidade de minha parte acreditar que somente exista talento no escopo futebolístico. Quando afirmo ser o mérito de Ronaldo o responsável pela riqueza adquirida ao longo de sua vitoriosa carreira, não excluo questões mercadológicas que envolvem a remuneração desigual nas diferentes profissões desempenhadas na sociedade. O melhor e mais brilhante zelador provavelmente jamais será remunerado ao patamar do Ronaldo. Os jogadores de futebol são remunerados de acordo com a riqueza que tal atividade gera em uma economia de mercado. Certamente existem talentos cuja remuneração e reconhecimento não são alcançados. Todavia isso não deve servir de pretexto para que estes exijam por via estatal o reconhecimento e a remuneração que desejam. Mérito individual é necessário, mas não suficiente para ganhos exorbitantes e reconhecimento profissional.

Abraço