“Estamos vivendo catástrofe na economia mundial que não foi causada por chuva, por terremoto, que foi causada pela especulação financeira, pela falta de controle do sistema financeiro”. (Luiz Inácio Lula da Silva)
Ó sapiência!
Como outrora não percebera a importância deste ilustre, e imprudentemente deixara de reconhecê-lo como o Rei-filósofo da República de Platão? Apesar de avesso à mentalidade religiosa, por constatar nesta um incremento de ineficiência no pensar, abro uma exceção quando se trata de Lula. Deveríamos como na sociedade egípcia, concomitantemente reconhecê-lo como entidade política e divina dotada de poderes intelectuais com efeitos de uma panacéia para a humanidade e adorá-lo em ritos e cultos cujas oferendas sacrificadas, neste contexto capitalista, sejam os amantes da liberdade. Nunca na história deste país tivemos um presidente dotado de tanta capacidade intelectual. Quando ouço Luiz Inácio Lula da Silva, certifico-me da minha insignificância e incapacidade de ater-me nas águas imersas de tanta sabedoria. (talvez somente sua espécie e outras aquáticas sejam dotadas de tal capacidade, pois se trata de um molusco). Um mamífero fraco como eu jamais conseguiria imergir a tal profundidade. Este senhor realmente é uma figura intelectual ímpar na história brasileira e tenho que contentar-me em ser um mero estudante reconhecendo a imensa sabedoria do que emana da sua cabeça iluminada. Deveria,todavia, minha índole filosófica impede-me de tal loucura. Como poderia aceitar tal entidade como autoridade substituta a minha razão? Filosóficamente seria um pusilânime e pouco racional ao tomar o periférico pelo núcleo desta questão assumindo as besteiras que ele diz. Ao pensar sobre especulação financeira, tomarei, portanto, a definição dada pelo vocabulário econômico e ater-me-ei as implicações decorrentes de tal termo, verificando a razoabilidade proferida da boca presidencial.
O termo especulação origina-se do latim. Significa a tentativa de tentar enxergar o futuro com os dados presentes. Quando um grupo, uma corporação recusa-se a reduzir de imediato os preços de seus produtos, visando o acúmulo em seus estoques, especula-se que a demanda irá aumentar no futuro. Quando um trabalhador recusa uma oferta de emprego, está especulando que possivelmente ganhará mais no atual (o ganho aqui não necessariamente da-se na remuneração monetária, mas na relação custo/beneficio, ou quaisquer outros móbiles). Quando alguém resolve adiar a viagem programada nas férias por motivos metereológicos, especula-se que o clima não estará favorável para suas pretensões. A incerteza do devir nos impele a todo instante a tarefa de especularmos. A crítica de Lula dirige-se aos especuladores de Wall Street, somente, ou melhor, aos burgueses capitalistas viciados na jogatina especulativa. Nesta e em outras inúmeras declarações ele evidencia a culpa dos especuladores financeiros e defende um controle estatal sobre tal especulação. Pensando na atual crise hipotecária americana devemos atentar-nos para o fato de que boa parte dela originou-se em excessos cometidos por muitos compradores de casas. De forma sucinta poderíamos resumir da seguinte forma: O Federal Reserve ao manter as taxas de juros baixas por demasiado tempo, estimulou o mercado de crédito imobiliário. Pessoas que antes não vislumbravam a aquisição imediata de casa própria passaram a ter acesso a hipotecas, comprando casas com preços crescentes, com praticamente ausência de investimento de capital próprio na aquisição, fazendo uso apenas da alavancagem. Tais especuladores não são alvos das críticas presidencial por quais motivos? A compra de uma casa cujo preço visivelmente subia ininterruptamente, sem a injeção de capital próprio não seria uma intensa especulação? O setor imobiliário estimulado e financiado por empresas que desfrutavam de garantia estatal, ou seja, o próprio governo não são passíveis de tais críticas? Que livre mercado é este cuja mão do Leviatã está fortemente presente? Mas as igualitárias amantes do poder e da intervenção estatal em todas as esferas preferem eleger o livre mercado e a mera especulação financeira como bode expiatório. Foram pontualmente os setores cuja marca do Leviatã mais esteve presente onde os problemas foram maiores. Hedge funds, com menos regulação governamental estão sobrevivendo e alguns ganhando dinheiro com a venda de ações, que o Estado pretende agora, vetar. Fannie Mae e Freddie Mac eram segundo especialistas semi-estatais. Foram criadas pelo governo e operavam com a garantia do mesmo. Os bancos de investimento que eram mais regulados que os hedge funds tiveram um prejuízo muito maior. Não há sentido de Lula argumentar em favor de um maior controle estatal, pois o Leviatã já o faz. Os especuladores em uma economia livre sejam ricos ou pobres devem ser responsáveis pelas decisões que tomam e dos possíveis riscos que assumem. Somente esta responsabilidade imputada a agentes livres de uma economia aberta, permite que os membros dela, assumam os riscos de suas decisões. Defender uma maior ingerência do Leviatã é tarefa própria dos amantes da tutela paternalista do Estado, que apenas de modo sistêmico por meio da especulação de seus agentes, intensifica tais crises e posteriormente culpam o amaldiçoado mercado livre e os especuladores ricos das consequências do qual o Leviatã tem grande contribuição,por meio de discursos inverídicos e falaciosos como o do presidente molusco.