sábado, 31 de janeiro de 2009

Don Corleone e o Leviatã.

Geralmente constata-se que a maioria dos usuários de drogas ilícitas, pretere em defender o princípio da liberdade individual como fonte legitimadora de seu consumo. Não se verifica também, a exigência dos mesmos, por um tratamento que os considerem como sujeitos livres, cuja comercialização voluntária de quaisquer substancias não possam ilegitimamente sofrer sanções e proibições através da ingerência do Leviatã na soberania total que os indivíduos possuem frente à propriedade de seus corpos. Certamente defender a ilegitimidade destas leis, não equivale à defesa da ilegitimidade do cumprimento das leis. A defesa do princípio da liberdade individual não isenta de responsabilidade jurídica os usuários e empresários que comercializam essas substâncias proibidas.

Após mais um dia tedioso em minha malograda e coitadinha existência, ao tentar decifrar a moral dos escravos e buscar alçar ao obscuro e supra-humano de uma moral nobre e afirmativa da vida regada por poderes dionisíacos, lembrei-me que sou meramente um ser racional sensível dotado de poderes exclusivamente humanos. Diante desta constatação intelectualista e judaico-cristã, resolvi fazer algo muito mais interessante do que alimentar-me da papinha do bigode: Assistir pela 5° vez à trilogia do Poderoso Chefão que retrata magnanimamente a saga da família Corleone, através da exploração dramática e conflituosa de um mundo épico com uma fotografia melancólica e bela em que a ganância constantemente conflita com a maior das virtudes da máfia siciliana: a lealdade à família.

A ilegitimidade das leis proibitivas à comercialização das drogas, como fora citado no inicio deste post, e o pouco apreço que damos a sagrada liberdade individual, não permite que façamos uma constatação óbvia de que traficantes deveriam ser tratados como empresários. Dentro de certos códigos, embora atuem ilegalmente, eles são na verdade um mero grupo de empreendedores e homens de negócio cuja atividade seja o fornecimento de bens e serviços que foram ilegitimamente proibidos pelo Leviatã.

Poderoso Chefão nos permite verificar os motivos que fomentam a violência sistêmica e cotidiana da máfia. A violência não se dá de forma passageira, divertida ou por mero prazer, mas sim pela necessidade criada com a ausência do Leviatã em fazer valer os contratos comerciais que ele considera ilegais. A polícia e os tribunais não fiscalizam e nada fazem para que as dívidas contraídas pela oferta de bens e serviços que foram proibidos pelo estado, sejam reconhecidas por meio de contratos acordados voluntariamentes. As dívidas não pagas, traições e quebras de contratos, são resolvidas pela violência, reforçando os códigos de lealdade e honra, sem os quais o empreendimento da máfia seria meramente violência insensata e gratuita.

Segundo Locke ao governo caberia a função de apenas proteger os direitos de propriedade e as regras comumente acordados livremente entre os indivíduos. Sendo assim, ilegitimamente o Leviatã impede que façamos uso da plena posse que temos sobre nossos corpos, impedindo-nos de usar seja lá qual for a substancia que desejamos, assim como ilegitimamente nos impede de fazer acordos voluntários em trocas comerciais com as substancias proibidas, deixando de proteger os direitos de propriedade e os contratos acordados entre usuários e fornecedores de drogas.

A família Corleone representa uma organização essencialmente produtiva que luta para se autogovernar. Evidente que por viver a sombra da ilegalidade, ela está sob a atmosfera da incerteza e de práticas que ferem a liberdade de outrem. Todavia,quando não tenta monopolizar e ferir concorrentes, é produtiva e não-agressiva. Boa parcela da esquerda acha bonitinho o crime irracional, aleatório, improdutivo, gratuito e caótico que constitui o ataque aos direitos da pessoa e da propriedade. Não é este que legitimamente deveria ser reconhecido pelo Leviatã como portador de legalidade, mas sim o crime organizado que visa o respeito aos direitos de propriedade por meio de acordos voluntariamente estabelecidos entre indivíduos livres. Ode à liberdade individual que luta para acabar com a ingerência fraudulenta e infundada do Estado.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Ronaldo versus Sociedade Injusta.

Ronaldo Nazário de Lima, conhecido como Ronaldo “Fenômeno”, iniciou sua carreira de jogador de futebol pelo Clube Social Ramos do Rio de Janeiro. Mudou-se para o São Cristóvão em seguida. No Cruzeiro se profissionalizou no segundo semestre de 1993. A alcunha “Fenômeno” recebera quando jogava no futebol italiano pela Internazionale de Milão. Ronaldo como outras tantas crianças não fora agraciado pelo destino de nascer em uma família cuja condição econômica fosse prodigiosa e próspera. Nascera no subúrbio de Bento Ribeiro sendo o mais novo entre três irmãos. “Dadado” – seu apelido de infância – não demorou a mostrar as qualidades que o transformariam, aos 20 anos, no melhor jogador do mundo, em 1996, posição consolidada com mais duas eleições, em 1997 e 2002. Com apenas 16 anos, assinalou 12 gols no Campeonato Brasileiro, em 14 jogos disputados. No ano seguinte, marcou 23 no Campeonato Mineiro, do qual foi campeão e artilheiro. Acabou sendo convocado para a Copa dos Estados Unidos. Assim como Pelé, viajou para o seu primeiro Mundial aos 17 anos e dele retornou com a taça de campeão. Após a competição, a jovem promessa transferiu-se para o PSV Eindhoven, clube pelo qual se tornou artilheiro do campeonato nacional e campeão da Copa da Holanda, em 1995, com a expressiva marca de 66 gols em 71 jogos. Sua simples presença em campo já assustava os zagueiros adversários. Nessa época Ronaldo começou a se firmar como titular da seleção brasileira, na disputa da Copa Umbro de 1995. Na temporada seguinte, estava no poderoso Barcelona, agremiação pela qual marcou 48 gols em 51 jogos. Foram 10 meses inesquecíveis, coroados com os 34 gols em 37 jogos pela Liga. Na Espanha, Ronaldo inventou a famosa comemoração em que imita um avião planador, sua marca registrada. Na equipe catalã o jogador conquistou a Supercopa da Espanha, a Copa do Rei e a Recopa da Europa. Seu estilo de arrancadas em velocidade e dribles desconcertantes encantou não somente os espanhóis, mas também os italianos. Em 1997, a Internazionale de Milão o contratou a peso de ouro. A expectativa foi tamanha que o atleta atraiu 60 mil torcedores ao estádio em sua estréia. Mesmo diante da forte marcação, principal característica do duro futebol italiano, Ronaldo sagrou-se artilheiro do campeonato nacional. Seus gols o fizeram receber o célebre apelido de “Fenômeno”. Na Inter, Ronaldo conquistou a Copa da UEFA em 1998, e venceu goleiros por 49 vezes, em 68 jogos. Obteve, inclusive, a melhor média de gols na história do Campeonato Italiano, na temporada 97/98.

Ainda na Itália, Ronaldo viveu o outro lado da carreira. Uma grave contusão no joelho direito, ocorrida em 1999 e agravada em 2000, o fez parar por quase dois anos. O atleta precisou se submeter a duas cirurgias e um doloroso processo de recuperação.Dado por acabado, o Fenômeno ressurgiu melhor do que nunca. Viveu um conto de fadas que emocionou o planeta no Mundial de 2002. Na Copa da Coréia e do Japão, o atacante se tornou o principal jogador da seleção brasileira e artilheiro da competição, com 8 gols. Do drama experimentado na final da Copa de 1998 à glória em 2002, Ronaldo protagonizou a mais épica saga de um jogador na história das Copas do Mundo.

Contratado a peso de ouro pelo poderoso Real Madrid, Ronaldo conquistou, entre outros títulos, o Mundial Interclubes de 2002. Terceiro artilheiro da história da seleção brasileira, o goleador poderá, assim como Pelé, levantar seu terceiro Mundial. Em 2006, tornou-se o maior artilheiro da história das Copas do Mundo, superando o alemão Gerd Müller. Ronaldo trocou o Real Madrid pelo Milan da Itália, em uma das únicas transferências simples de sua carreira. Na Itália fugiu da mídia, mas os resultados nem por isso foram ruins. Foi um dos grandes responsáveis pela boa campanha do Milan, reagindo no Campeonato Italiano e mesmo com uma punição no começo do campeonato conquistando uma vaga na Liga dos Campeões 2007-2008. Em 2007, foi descoberto que seus problemas constantes com a balança deviam-se à um mau funcionamento na glândula tireóide. Após esse diagnóstico, Ronaldo emagreceu muito, sendo chamado até de modelo. No único clássico de Milão contra a Inter que disputou, foi muito vaiado, mostrando o ódio que a torcida adversária tem por ele. Depois da Copa de 2006 nunca mais foi chamado para jogar pela seleção renovada do técnico Dunga.

No dia 13 de fevereiro de 2008, no jogo entre Milan e Livorno, após substituir Gilardino no segundo tempo, Ronaldo em sua primeira participação no jogo, ao tentar subir na área para um cabeceio, acabou se lesionando na hora do salto, saindo de campo em seguida chorando. Foi o mesmo tipo de lesão que teve no joelho direito e quase o impediu de participar da Copa de 2002. No dia 9 de dezembro de 2008 foi anunciado como novo reforço do Corinthians com contrato de uma temporada. Mais uma vez Ronaldo terá o desafio de tentar retornar para o futebol em alto nível.

Além de craque de talento inquestionável, Ronaldo empresta sua imagem a campanhas pela paz, atuando como Embaixador da ONU. Esteve em países abalados por guerras, onde sua presença foi capaz de comover correntes inimigas, como em Kovoso, no ano 2000. Em 2005, também em ação pacifista, visitou Israel e Palestina, incentivando a união de povos distanciados por conflitos que duram décadas.(www.ronaldo.com)

Ronaldo Nazário de Lima é a personificação de um sujeito que desde o início de sua carreira confia em si mesmo e luta para conseguir superar todos os desafios que a vida lhe proporciona. Não reclamou da sociedade injusta por ter nascido em condições desfavoráveis. Não faz como os humanistas de boteco que choramingam pela injustiça da sociedade e a ausência do Estado-Papai em prover de modo eficiente e satisfatório os bens aos membros (vítimas e coitadinhos) da sociedade capitalista injusta. Ronaldo não reclama esmola estatal, como as cotas. Não exige do Leviatã assistencialismo como um parasita que espera de outrem o sucesso que deve ser conquistado por ele. É um exemplo de homem cuja coragem sempre superou as dificuldades. Ronaldo assume para si a responsabilidade de sua vida, luta e conquista seu sucesso individual. Foi o mérito individual que lhe proporcionou uma fortuna estimada em 250 milhões de dólares. Se ele contratara serviços para fins de prazer sexual, ou por quaisquer motivos decidiu ter uma experiencia com travesti, pouco me importa, pois o mesmo é livre para exercer a soberania de uso sobre seu corpo, propriedade exclusivamente sua, e contratar prestações de serviços em acordos voluntários como desta natureza. Desejo sim, que ele obtenha exito em mais um desafio de sua vitoriosa carreira.

“Se você (jornalista que fez a pergunta) quiser, só vivo de futebol, respiro futebol, treino de madrugada e almoço uma bola de futebol. Tenho certeza que você não fica até de madrugada e janta na redação. Minha vida pessoal é bem particular. Ninguém tem nada a ver com isso” (Ronaldo).

“Se fui ao show da Madonna, a um restaurante para jantar ou ao cinema, não devo satisfação a ninguém. Eu não tinha me apresentado, só tinha assinado contrato. A gente está treinando só agora. Tenho obrigação de passar somente as coisas do meu trabalho, que é de interesse público.” (Ronaldo)

"Na minha história tive muitíssimos troféus, e nenhum foi-me dado. Eu conquistei todos com o meu suor e o meu sacrifício, e espero fazê-lo ainda."(Ronaldo)

Eu me inclino a pensar que o mesmo seja um amante da liberdade.